Richard Rytenband, economista e especialista em investimentos e métodos quantitativos pela FGV, explica o porquê descarta a possibilidade de bolha e ensina os investidores a entrar no mundo dos imóveis.
Em meio a rumores de que uma bolha imobiliária está se formando no
Brasil, Richard Rytenband, economista e especialista em investimentos e
métodos quantitativos pela FGV, explicou o porquê descarta essa
possibilidade e ensinou como se monta um ‘Império Imobiliário’ com pouco
dinheiro, quebrando paradigmas de que é necessário ser rico para
investir em imóveis.
Segundo ele, muitas pessoas que afirmam que há bolha não estão
preparadas para o debate. “As discussões sobre isso são cada vez mais
irracionais”, disse. “Para fazer uma afirmação como essa, a pessoa tem
que apresentar dados, séries históricas, estudos da história do nosso mercado imobiliário e da experiência mundial também”, completou.
Rytenband, por meio da resposta
de cinco dúvidas comuns entre os investidores, esclareceu que muitas
coisas que são dadas como certas, na verdade são mitos. “Essa
desinformação atrapalha na hora de investir e faz com que o investidor
saia prejudicado, ganhando bem menos do que poderia”, disse.
Os 5 mitos
O primeiro mito que ele esclarece é que um imóvel
é um investimento seguro e dificilmente cai de preço. De acordo com o
especialista, não é assim que funciona, afinal, um imóvel é um
investimento como qualquer outro, ou seja, tem ciclos, altas, baixas, e
isso não é motivo para drama, mas sim para entender o processo e tentar
se posicionar bem no ciclo.
“As pessoas acreditam que o preço do imóvel só vai subir para sempre,
mas não, ele sobe e cai, como qualquer outro ativo cíclico”, afirmou.
“Se a pessoa não aceita isso, ela não pode investir em imóveis. Tem
momentos bons e ruins para comprar, mas depende da estratégia, porque às
vezes não importa se está caindo ou subindo, porque você está ganhando
renda e pode aplicá-la em outras coisas”, completou.
O segundo mito que ele aponta é que tem como prever altas e
baixas nos imóveis. O ciclo é composto de quatro etapas: boom,
contração, recessão e recuperação.
O boom é marcado pelo elevado fluxo de capital, atividade de construção
em alta, elevada taxa de ocupação, imóveis com preços elevados e normas
de crédito relaxadas. Já nos períodos de contração, é possível observar
uma redução na taxa de ocupação, desaceleração na atividade de
construção e queda no preço dos imóveis. Depois deste período, vem a
recessão, com fluxo de capital negativo, preços em declínio, restrições
de crédito, queda na atividade da construção e elevada taxa de
desocupação. E, por fim, no período de ocupação, a taxa de desocupação
começa a cair e a atividade de construção começa a aumentar, levando o
ciclo a um novo boom.
Segundo o economista, tanto fatores macroeconômicos quanto
microeconômicos influenciam nos preços dos imóveis. No primeiro caso, os
principais são: maior disponibilidade de crédito, aumento da renda
e emprego, queda nas taxas de juros com inflação moderada, queda no
estoque de terrenos nas áreas mais centrais, aumento do custo da
construção e crescimento populacional. Já em relação aos fatores micro,
os investidores tem que considerar o que valoriza os bairros (shopping
centers, praças e áreas arborizadas, comércio e formação de centros
empresariais, boa rede de transportes, grande quantidade de ruas em
curva e fácil acesso a avenidas) e o desvaloriza os bairros (ocupações
irregulares, comercio ambulante, feira livre, imóveis ou terrenos
abandonados, criminalidade e casas noturnas que causam barulho e
trânsito).
O terceiro mito é que comprar um imóvel para alugar pode render
menos do que a poupança. Isso é totalmente irreal, afinal, não pode-se
confundir rendimento nominal com rendimento real.
Uma pessoa compra um imóvel por R$ 300 mil, por exemplo, e o aluga por
R$ 1.200 (0,4% ao mês ou 4,9% ao ano) já livre de impostos. Com isso,
ele pensa: ‘a poupança, atualmente, rende 6,17% ao ano, enquanto que,
com o imóvel, vou ganhar apenas 4,9%. Ou seja, a poupança é melhor’.
Concorda? Não. Isso está errado.
Rytenband explicou que o investidor nunca pode confundir rendimento
nominal com real. Os 4,9% de rendimento com o aluguel é ajustado pela
inflação ano a ano, ou seja, é um rendimento real. Já o rendimento da
poupança é nominal. Então, se levarmos em conta que a inflação em 12
meses está em 6,15% e a poupança rende 6,17% ao ano, o rendimento real
da poupança é de 0,02% ao ano, que é muito menor que os 4,9% do imóvel.
O quarto mito é em relação a formação de uma bolha imobiliária. Como já comentado anteriormente, falta estudo das séries históricas antes de debater sobre esse assunto.
Segundo estudos do especialista, o que causa uma bolha é o excesso de
confiança e alavancagem exagerada. “As pessoas que estão debatendo o
mercado imobiliário brasileiro tem que apresentar séries históricas mais
antigas do Brasil e do mundo. Como foi o mercado nos anos 50, 60, 70,
80...? E o norte-americano que tem 300 anos de estatística? Esses
gráficos irão mostrar os ciclos e provar que tivemos vários momentos
piores que esse e que não tiveram bolha nenhuma”, explicou. “Para formar
bolha tem que ter uma alavancagem muito grande e em excesso, que é
fruto da ganância. Se não tiver isso, não tem bolha e, mesmo sem ela, os
preços vão cair”, concluiu.
Por fim, Richard afirmou que não é preciso ser rico para investir no mercado imobiliário.
O investidor tem apenas que estudar, entender sobre o mercado e saber
aproveitar as boas oportunidades, e não sair comprando qualquer coisa
que indicam. Além disso, os fundos imobiliários, que já existem há muito
tempo nos mercados externos, chegaram no Brasil “recentemente” também
para facilitar ainda mais este acesso a investidores menos qualificados.
“Ou seja, a resposta é informação. Sem estudo e leitura não tem como
saber dessas coisas”, finalizou.
Por: Arthur Ordones
Fonte: InfoMoney
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